quarta-feira, março 08, 2006

Doenças com nomes palermas são inofensivas

Apesar de estar a milhares de kms do nosso Portugal, tenho acompanhado com algum pesar toda a histeria com a Gripe das Aves.

Do outro lado do mundo, venho recordar-vos duma verdade universal com suporte histórico: Uma doença sem um nome evocativo é absolutamente inofensiva.

Esta premissa pode ser abordada de várias maneiras:

Do ponto de vista do circo mediático que hoje em dia acompanha cada epidemia, lembrem-se que as imagens que aparecem na televisão, relativas à Gripe das Aves são sempre de gajos desbarrigados a correrem atrás duma galinha. Ora, que espécie de credibilidade tem uma doença que se explica graficamente com recurso a imagens de gansos a nadar num lago???? Uma doença só é perigosa se aparecer nas notícias sob a forma de gajos com máscaras e fatos anti bio-hazard e com gajos deitados em liteiras a definhar. Mais ainda, quando é que deu uma notícia sobre a Gripe das Aves precedida de: “As imagens que se seguem podem ser chocantes para os espectadores mais sensíveis”???

Por outro lado, o próprio nome da doença é no mínimo risível. Combina o inofensivo da gripe com o ridículo que caracteriza todas as aves. Só me preocupo quando o nome de rua da Gripe da Aves for o H5N1. Isso sim, já mete algum respeito!

Uma doença, para fazer mal a alguém, tem que ter um nome sonante. Veja-se um Cancro, um Escorbuto, uma Tuberculose, um Ébola, uma Peste Negra. Isto são nomes com um certo ar de mistério e de terror. Gripe das Aves não é. Imaginem o efeito comparado de numa mesa de café declararem aos vossos amigos que sofrem de ÉBOLA. A mesa pára, as pessoas querem saber o que se passa e sofrem por uma morte certa e cruel às mãos duma febre hemorrágica. Já se disserem no fim do jantar que têm GRIPE DAS AVES, na melhor das hipóteses uma gaja mais preocupada oferece-vos um Ben-U-Ron e não se fala mais no assunto.

Por fim, a história oferece um exemplo acabado da importância do nome no poder mortal da doença. Como é conhecimento comum, a “Gripe” de hoje em dia matou milhões de pessoas nos primeiros anos do século passado. Ora, tal só aconteceu porque a gripe apareceu sob o nome “Influenza”, um nome saído do Latim, com uma carga mística grande. “De que é que ele morreu?”; “De INFLUENZA”. Ainda hoje metia medo, mesmo sabendo o que sabemos da doença. A partir do momento em que os americanos lhe passaram a chamar simplesmente “Flu”, o poder devastador da maleita esfumou-se. “Porquê?”, perguntaram os cientistas da altura? Simples, porque o nome passou a ser merdoso e as pessoas perderam o respeito ao bicho. Portugal, numa brilhante jogada de antecipação, chamou-lhe logo de início “Gripe”, impedindo assim uma pandemia com efeitos catastróficos.

Posto tudo isto, digo-vos desde já que Gripe das Aves é na boa, com um nome desses, não há nada que lhe valha...

2 comentários:

Anónimo disse...

Tou contigo meu caro, nem mais!

You my friend, are a GENIUS!!!!

Alexandre disse...

Excelente!!

Agradeço-te o facto de teres pronunciado a palavra "Flu". Fizeste me recordar os momentos em que jogava CM (ediçao em inglês) e aparecia que o Tó Madeira estava Flu...